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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

triste cabreiro não soprasse novas da gente de Bayão — uma bruta setta lhe atravessára o peito escarnado de fome, mal coberto de trapos. Mas por qual das sendas se embrenhára o malvado? Na terra solta, raspada pelo vento suão que rolava d’entre-montes, não appareciam pegadas revoltas de tropel fugindo. E, em tal solidão, nem choça ou palhoça d’onde villão ou velha alapada espreitassem a levada do bando... Então, ao mando do Alferes Affonso Gomes, tres almogavres despediram pelos tres caminhos á descoberta — em quanto os Cavalleiros, sem desmontar, desafivelavam os morriões para limpar nas faces barbudas o suor que os alagava, ou abeiravam os ginetes d’um sumido fio d’agua que á orla da chan se arrastava entre ralo caniçal. Tructesindo não se arredou de sob a ramada do carvalho de S. Froalengo, immovel sobre o murzello immovel, todo cerrado no ferro da sua negra armadura, as mãos juntas sobre a sella e o elmo pesadamente inclinado como em magua e oração. E ao lado, com as colleiras errissadas de prégos, as sangrentas linguas penduradas, arquejavam, estirados, os seus dous mastins.

Já no emtanto a espera se alongava, inquieta, enfadonha — quando o almogavre que mettera pela senda de Nascente reappareceu n’um rolo de poeira, atirando logo o alarde de longe, com a ascuma