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Página:A illustre Casa de Ramires (1900).djvu/396

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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

na sua mudez até a um ceu remoto, onde já se apagava uma derradeira tira de poente côr de cobre e côr de sangue. Então Tructesindo deteve a abalada, rente d’espinheiros que se torciam nas lufadas mais rijas do suão:

— Por Deus, senhores, que corremos em pressa vã e sem esperança!... Que pensaes, Garcia Viegas?

Todo o bando se apinhára: e uma fumarada subia dos ginetes arquejantes sob as coberturas de malha. O Sabedorestendeu o braço:

— Senhores! O Bastardo, antes de nós, galgou d’escapada essa campina além, e metteu a Valle-Murtinho para pernoitar na Honra de Agredel, que é bem afortalezada e parenta de Bayão...

— E nós, pois, D. Garcia?

— Nós, senhores e amigos, só nos resta tambem pernoitar. Voltemos aos Tres-Caminhos. E de lá, em boa avença, ao arraial do Snr. D. Pedro de Castro, a pedir agasalho... A par de tamanho senhor encontraremos mais fartamente que nos nossos alforges o que todos, christãos e brutos, vamos necessitando, cevada, um naco de vianda, e de vinhos tres golpes rijos...

Todos bradaram com alvoroço: — «Bem traçado! bem traçado!...» — E de novo, pelo barranco pedregoso, a cavalgada trotou pezadamente para os Tres-Caminhos — onde já dous corvos se encarniçavam sobre o corpo do pastorinho morto.