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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

— Honra! honra! aos Ricos-Homens de Portugal!

As trompas misturavam o clangor rispido aos rufos lassos dos tambores. E por entre a turba, que calladamente recuára em alas lentas, avançou, precedido por quatro cavalleiros que erguiam archotes accesos, o velho D. Pedro de Castro, o Castellão, o homem das longas guerras e dos vastos senhorios. Um corselete d’anta com lavores de prata cinjia o seu peito já curvado, como consumido por tamanhas fadigas de pelejar e tamanhas cubiças de reinar. Sem elmo, sem armas, appoiava a mão cabelluda de rijas veias a um bastão de marfim. E os olhos encovados faiscavam, com affavel curiosidade, na requeimada magreza da face, de nariz mais recurvo que o bico d’um falcão, repuxada a um lado por um fundo gilvaz que se sumia na barba crespa, aguda e quasi branca.

Deante do senhor de Santa Ireneia alargou vagarosamente os braços. E com um grave riso que mais lhe recurvou, sobre a barba espetada, o nariz de rapina:

— Viva Deus! Grande é a noite que vos traz, primo e amigo! Que não a esperava eu de tanta honra, nem sequer de tanto gosto!...