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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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— O rapaz está só atordoado, já se mecheu... E o outro malandro tambem... Marche vossê!

E ao irresistivel mando de Gonçalo, o velho, depois de sacudir demoradamente as joalheiras, começou a avançar pela estrada, vergado deante da egoa, como um captivo, com os longos braços a bambolear, rosnando, n’um rouco assombro: — Ai como ellas se armam! Ai Santo nome de Deus, que desgraça! A espaços estacava, esgaseando para Gonçalo um olhar torvo onde negrejava medo e odio... Mas logo o commando forte o empurrava: «Marche!...» E marchava. Adiante, onde se erguia um cruseiro em memoria do Abbade Paguim, assassinado, Gonçalo reconheceu um largo atalho para a estrada dos Bravaes que chamavam o Caminho da Moleira. E para ahi enfiou o velho, que no pavor d’aquella asinhaga solitaria, pensando que Gonçalo o afastava de caminhos trilhados para o matar commodamente, rompeu a gemer. «Ai que isto é o fim da minha vida! Ai Nossa Senhora, que é o fim da minha vida!» E não cessou de gemer, emmaranhando os passos tropegos, até que desembocaram na estrada alta entre taludes escarpados, revestidos de giesta brava. Então de repente, com outro terror, o homem bruscamente revirou, atirando as mãos ao barrete:

— Oh meu senhor, o Fidalgo não me leva preso?...