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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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E quando os primeiros cavalleiros, galgada a lomba d’um cerro, o avistaram, na melancholia da manhã nevoenta, emmudeceram da larga fallada, repucharam os freios, assustados ante tão aspero ermo, tão propicio a Bruxas, a Avantesmas e a Almas penadas. Deante do escalavrado barranco, por onde os ginetes escorregavam, ondulava uma ribanceira, aberta com charcos lamacentos, quasi chupados pela estiagem, luzindo pardamente, por entre grossos pedregulhos e o tojo rasteiro. Ao fundo, a meio tiro de bésta, negrejava o Pego, lagoa estreita, lisa, sem uma ruga n’agua, duramente negra, com manchas mais negras, como lamina d’estanho onde alastrasse a ferrugem do tempo e do abandono. Em torno subiam os cerros, eriçados de matto bravio e alto, sulcados por trilhos de saibro vermelho como por fios de sangue que escoresse, e rasgados no alto por penedias lustrosas, mais brancas que ossadas. Tão pesado era o silencio, tão pesada a soledade, que o velho D. Pedro de Castro, homem de tanta jornada, se espantou:

— Feia paragem! E voto a Christo, a Santa Maria, que nunca antes de nós, n’ella entrou homem remido pelo baptismo.

— Pois, Snr. D. Pedro de Castro! accudiu o Sabedor, já por aqui se moveu muita lança, e luzida, e ainda em tempos do Conde D. Sueiro, e de vosso