ha um homem muito serio, muito puro, muito austero, um Catão que nunca cumpriu senão o dever e a lei... E todavia ninguem gosta d’elle, nem o procura. Por que? Por que nunca deu, nunca perdoou, nunca acarinhou, nunca serviu. E ao lado outro leviano, descuidado, que tem defeitos, que tem culpas, que esqueceu mesmo o dever, que offendeu mesmo a lei... Mas quê? É amoravel, generoso, dedicado, serviçal, sempre com uma palavra doce, sempre com um rasgo carinhoso... E por isso todos o amam, e não sei mesmo, Deus me perdôe, se Deus tambem o não prefere...
A curta mão que acenára para o ceu, recahiu sobre o cabo d’osso do guarda-sol. Depois, e córado com a temeridade de pensamento tão espiritual acudiu cautelosamente:
— Que esta não é propriamente doutrina da Egreja!... Mas anda nas almas; anda já em muitas almas.
Então João Gouveia abandonou o recosto do banco de pedra e teso na estrada, com o côco á banda, reabotoando a sobrecasaca, como sempre que estabelecia um resumo:
— Pois eu tenho estudado muito o nosso amigo Gonçalo Mendes. E sabem vocês, sabe o Snr. Padre Sueiro quem elle me lembra?
— Quem?