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Página:A illustre Casa de Ramires (1900).djvu/75

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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES
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ginete morto, e toda a noite galopára atravez da Hespanha para se bater nas Navas de Tolosa! Pigarreou — e, mais chorosamente, atacou a do Descabeçado:

Lá passa a negra figura...

Mas Gonçalo, que abominava aquella lenda, a silenciosa figura degolada, errando por noites de inverno entre as ameias da Torre com a cabeça nas mãos — despegou da varanda, deteve a Chronica immensa:

— Toca a deitar, oh Videirinha, hein? Passa das tres horas, é um horror. Olhe! O Titó e o Gouveia jantam cá na Torre, no Domingo. Appareça tambem, com o violão e cantiga nova: mas menos sinistra... Bona sera! Que linda noite!

Atirou o charuto, fechou a vidraça da sala — a «sala velha,» toda revestida d’esses denegridos e tristonhos retratos de Ramires que elle desde pequeno chamava as carantonhas dos vovós. E, atravessando o corredor, ainda sentia rolarem ao longe, no silencio dos campos cobertos de luar, façanhas rimadas dos seus:

 

Ai! lá na grande batalha...
El-Rei Dom Sebastião...
O mais moço dos Ramires
Que era pagem do guião...