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A ILUSTRE CASA DE RAMIRES

Despido, soprada a vella, depois de um rapido signal da cruz, o Fidalgo da Torre adormeceu. Mas no quarto, que se povoou de Sombras, começou para elle uma noite revôlta e pavorosa. André Cavalleiro e João Gouveia romperam pela parede, revestidos de cótas de malha, montados em horrendas tainhas assadas! E lentamente, piscando o olho máo, arremessavam contra o seu pobre estomago pontoadas de lança, que o faziam gemer e estorcer sobre o leito de pau preto. Depois era, na Calçadinha de Villa-Clara, o medonho Ramires morto, com a ossada a ranger dentro da armadura, e El-rei Dom Affonso II, arreganhando afiados dentes de lobo, que o arrastavam furiosamente para a batalha das Navas. Elle resistia, fincado nas lages, gritando pela Rosa, por Gracinha, pelo Titó! Mas D. Affonso tão rijo murro lhe despedia aos rins, com o guante de ferro, que o arremessava desde a Hospedaria do Gago até á Serra Morena, ao campo da lide, luzente e fremente de pendões e d’armas. E immediatamente seu primo d’Hespanha, Gomes Ramires, Mestre de Calatrava, debruçado do negro ginete, lhe arrancava os derradeiros cabellos, entre a retumbante galhofa de toda a hoste sarracena e os prantos da tia Louredo trazida como um andor aos hombros de quatro Reis!... — Por fim, moido, sem socêgo, já com a madrugada clareando nas fendas das janellas e as