Saltar para o conteúdo

Página:A imprensa e o dever da verdade (1920).djvu/18

Wikisource, a biblioteca livre

Não negaria eu, decerto, quanto vai de temeridade em me alongar tanto quanto da medida usual me tenho alongado, quando me abalanço a falar, como tantas vezes me tem acontecido, a multidões por três e quatro horas a reio. Mas não será menos certo que, durante essas três ou quatro horas de enfiada, me têm elas sempre escutado a pé, quedo,não a se espreguiçarem, não cochilando, bocejado, ou sussurrando, mas atento, comovendo-se, exaltando-se, indignando-se comigo, sublinhando, ponteando, interrompendo, a cada período, a cada momento, às vezes frase a frase, com os sinais mais calorosos de adesão, com aplausos gerais, com apartes de solidariedade, que não raro vão até além da intenção do orador; e, ao acabar de cada um desses meus estirões, que a incansável acrimônia dos meus desafetos pinta como chorros de palavreado, o recinto contém ainda a mesma concorrência do começo, não aumentada, porque já de princípio mais não comportava.

Ora nunca houve, em nenhum desses comícios que me têm dado a honra de afluir aos meus sermões de pregador excomungado pelos ortodoxos do poder e seus asseclas, — em nenhum deles houve jamais atrativos de espécie alguma, com que se pudessem desentediar ouvintes aborrecidos. Nem cantores, como na ópera. Nem intervalos, como no teatro. Nem sinfonias, como nos concertos. Nem músicas, como nas festas. Nem distrações de qualquer ordem, como nos jogos, nas corridas, nos bazares, nas quermesses. Nada mais que o orador e sua