oração, espraiada em horas sucessivas de audição ininterrupta.
Que enigma então seria o do persistir de tais concorrências, o da renovação e vibração desses auditórios pés-de-boi e coiros-de-anta, que, quanto mais sovados, mais agradecidos pela sovadura, mais entusiasmados com o sovador? que armazenam horas de sova, palmeando, em lugar de gemerem, ou dormirem, de vaiarem, ou se evadirem? que, convidados outras vezes, outras tantas volvem, recontentes, ao sovadoiro, como se, insaciáveis de moidelas, ardessem, na inconcebível mania, por novos derreaços? Que mistério seria o dessa atração inexplicável, a não supormos no público das mais cultas metrópoles brasileiras um mal desconhecido, uma espécie de cretinação ainda não registrada nos quadros nosológicos do hebetismo?
Nesses concursos extraordinários, que, aqui, no Rio, em Minas, em São Paulo, me têm dado tantas vezes a sua atenção, e com o fervor de suas simpatias me têm aviventado, vimos representar-se, vezes sem conta, a nata da sociedade brasileira, a flor das suas várias classes, o escol de todas as profissões, o melhor da nossa cultura.
Todos esses elementos seletos da nossa civilização, todos esses dignos exemplares das nossas qualidades morais, toda essa contribuição da inteligência nacional, do progresso nacional, do civismo nacional, se têm juntado, entretanto, e tornado a juntar, inúmeras vezes, para ouvir e aplaudir, animar e vitoriar, nas suas reincidências, o brasileiro degenerado, o malfeitor público,