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Página:A imprensa e o dever da verdade (1920).djvu/76

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os prelos não em gabar os talentos cênicos dos grandes histriões, mas em meter nos cascos aos paturebas da platéia e torrinhas que não estão diante de um tablado, mas de um governo, de uma República, de uma democracia; que as personagens do espetáculo não são comediantes de chapa, mas varões ilustres, e que essas figurarias, essas embusterias, essas truanias deslavadas não constituem imposturas de um Guignol do gênero mais desacreditado, mas rasgos de seriedade, episódios da história honesta, verdadeiros lanços do serviço nacional.

Mas por que ir assim de encontro à evidência das coisas? Pelo amor d’arte, natural aos homens d’arte? Bem pode ser. Arte será tudo, e tudo serão artes. Os administradores que ladripam ou ladroam do Tesouro Público, para assalariar escritores, ou os escritores que embolsam tão vil salário, para embutir à opinião pública o contrário do que sentem, são artistas das mesmas artes: a da corrupção e a da impostura. Furtam uns e outros ao público, para o trair. Uns e outros iludem o público, para o despojar.

Enquanto esses casos eram esporádicos e acidentais, enquanto, de raros que eram, mal se conheciam, enquanto a sua estranheza lhes abria derredor um círculo de repulsão geral, a imprensa defrontava os abusos do poder como um poder de correção dos seus abusos, poder temeroso e temido.