que auctorize essa conjectura. Nem uma só vez menciona a Infanta D. Maria. Portanto o que não é impossivel, figura-se-me pouco provavel. ― E' certo que antes da vinda de Moro, Sunches Coelho, Van der Straten, Christoph von Utrecht, retratistas de merito trabalharam na côrte portuguesa, embora desconheçamos seus nomes.
30 O tratado Do Tirar pelo Natural ainda não teve edição avulsa. Por ora só existe impresso no hebdomadario A Vida Moderna (Anno 1895).
31 O primeiro escritor português que nomeou Vittoria Colonna foi o grande reformador da poesia lyrica em sentido italiano. Ao trocar com D. Leonor de Mascarenhas uns versos á maneira antiga, num dos Serões Manoelinos (ou antes no acto de os copiar em 1551, a favor do Principe Real), Francisco de Sá de Miranda juntou ao nome d'essa dama do paço a nota seguinte: «polo d'ela que é cousa rara, pus aqui isto, porque se veja que tambem Portugal teve a sua Marqueza de Pescara». ― Vid. Poesias de Sá de Miranda, Ed. Carolina Michaelis de Vasconcellos, pag. 40 e 744. D. Leonor de Mascarenhas sahiu de Portugal em 1526 como dama da Imperatriz D. Isabel, meia-irman da nossa Infanta, vindo ser a primeira educadora de Felipe II e posteriormente a do infeliz principe D. Carlos. ― Mais tarde, outros escritores que cultivaram o ideal italiano, entre elles: Gaspar Barreiros, Frei Heitor Pinto, Duarte Nunes de Leão e Hollanda, seguiram o exemplo de Miranda. ― Eis o que disse de Vittoria Colonna o pintor português: «E' polo conseguinte a senhora Vittoria Colonna (Marqueza de Pescara e irman do senhor Ascanio Colonna) uma das illustres e famosas damas que ha em Italia e em toda a Europa, que é o mundo, casta e inda fremosa, latina e avisada e com todas as mais partes de virtude e clareza que numa femea se podem louvar. Esta, depois da morte de seu grão marido, tomou particular e humilde vida, contentando-se do que já em seu stado tinha vivido, e agora só Jesu-Christo e os bons stados amando, fazendo muito bem a proves mulheres, e dando fructo de verdadeira catolica». Dialogos, pag. 12.
32 Raczynski, ao fallar do retrato perdido ― por informação do Visconde de Juromenha ― confunde a nossa Infanta com a outra D. Maria, filha de D. João III, a que me referi numerosas vezes neste estudo. (Vid. pag. 13 e 43, e Notas 40, 41, 42, 50, 52 e 68.) Além d'isso parte de uma data inexacta (1532, em vez de 1552). Dictionnaire, pag. 152.
33 Os versos são do Dr. Manuel da Costa. As obras d'este varão appareceram em primeira edição em Lyon de França, no anno 1552. Ha outra de Salamanca 1584: Emanuelis Costa Lusitani Jurisconsulti Commentarii. E' d'ella que me sirvo. O original (a p. 492), diz:
Vidit Mariæ pictam Cytherea figuram
Abstulit et nato sic ait illa suo:
Scis ut consortem iam dudum fata laborent
Huic Mariæ, et dignum vix reperire queant?
Pro pharetra atque arcu solum hanc fer nate tabellam,
Accedet titulis gloria summa tuis,
Vnum etenim referes sed summum immane trophæum
Captiuo summi principis imperio.
34 Não creio que o monarca alludido fosse um dos Imperadores da Austria (Fernando II, Maximiliano I, ou Carlos V), comquanto os primeiros dois fossem, com efeito, temporariamente noivos de D. Maria, e o ultimo tambem appareça no rol dos pretendentes, tal qual historiadores modernos o elaboraram. Desconheço as provas da affirmação e julgo que se deixaram illudir por uma liberrima paraphrase de um poema latino de André de Resende, impresso na obra de Pacheco. No original uma phrase, relativa á Infanta, diz que seu excelso irmão a destinava ao imperio do globo e ás culminancias do poder ― frater quem maximus orbis destinat imperio ac rerum ad fastigia summa. O traductor substituiu essa proposição vaga pelas hyperbolicas asseverações seguintes:
La infanta augusta de quien ya predica
Dichoso vaticinio que el imperio
De todo el emisferio
Emperatriz la llama,
Que suena ya la trompa de la fama
Que Carlos Quinto esposa la destina
A la Infanta Maria su sobrina.
Confesso não perceber bem. Haverá erros de escrita? Será preciso lermos:
Que Carlos Quinto esposa ya destina
Al principe Felipe su sobrina?
35 João de Barros assim o exarou no seu Panegyrico § 45: «deixada a caça a que muitas
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