A natureza estava serenissima. No occidente desenhavam-se estreitos e longos traços nebulosos, a que o sol dava um colorido tão ardente, que se o pintor paizagista o produzisse na palheta, hesitaria, ao passal-o á tela, com receio de que o acoimassem de exaggerado. O verde dos campos apresentava a gradação vigorosa, que a luz de um formoso dia de inverno costuma dar-lhe.
Christina interrompeu o silencio por fim.
— O que eu não sei — principiou ella — é como o primo Henrique de Souzellas...
— Onze! — atalhou a morgadinha, sem desviar os olhos do ponto da perspectiva, que fitava.
— Onze quê? — perguntou Christina, erguendo os d’ella.
— Com esta são onze as vezes que, esta tarde, depois de um longo silencio, abres a bôca para me falares no primo Henrique de Souzellas, uma vez que está decidido que seja primo.
Christina fez um gesto de despeito e córou levemente.
— E então que queres dizer com isso?
— Eu? Nada. Digo só que são onze vezes com esta.
— Não sabia que era prohibido falar-te no primo Henrique. Bem, n’esse caso falaremos em outra coisa. Está um tempo muito bonito: nem parece dezembro.
— Não; vae magnifico para os nabaes — replicou Magdalena zombeteiramente.
— Se não mudar com a nova lua — continuou Christina, ainda formalisada.
— É excellente para seccar os milhos, que bem precisavam ainda d’isso, principalmente os das terras baixas.
E, acabando de dizer estas palavras, a morgadinha desatou a rir.
— Não sei de que te ris! — acudiu Christina, cada vez mais séria. — Pois não é esta a conversa de que tu gostas?