Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/143

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—­Isso são já ciumes? Mal sabes quanto gósto de te vêr assim! Ao menos ha já vida n’esse teu coração, minha pobre pequena. O que te peço é que não me odeies, só porque esse rapaz se lembrou de perguntar por quem não via.

—­Estás a imaginär ciumes, como hontem imanavas...

—­Amores? justo; e com a mesma felicidade em acertar; podes ir accrescentando. Mas, parece-me que ahi está maïs alguem no pateo. Ouço falar. Vae vêr. Será Augusto? N’esse caso, espera-se só por mim para completar a caravana. E eu estou prompta. Marchemos.

Augusto havia effectivamente chegado ao pateo.

Henrique trocára com elle alguns cumprimentos, e principiaram depois ambos a passeiar, um ao lado do outro, á espera das que deviam ser-lhes companheiras na romagem.

A conversa manteve-se pouco animada. Augusto não era expansivo com as pessoas, a quem o não prendiam hábitos de longa intimidade; Henrique, talvez por não conhecer a extensão e natureza dos conhecimentos de Augusto, abstinha-se de falar dos assumptos, em que entraria de maïs vontade. Falaram pois de coisas indifferentes a ambos, e quasi frivolas; no frio, na chuva, no inverno e no verão, nos prós e contras da vida do campo e de varios outros assumptos sêccos de si e já além d’isso muito esgotados, e tudo cortado por aquellas pausas e silencios constrangidos e insupportaveis, que o leitor ha de conhecer por experiencia.

Digamos nós a verdade; estes dois homens não sentiam um pelo outro aquella subita e inexplicavel sympathia, que abre os corações e dá margens a confidencias.

Nos dois curtos encontros que tinham tido, manifestára-se entre elles certa frieza maïs que ceremoniatica, uma quasi desconfiança instinctiva.

Chegaram as senhoras. Foram acolhidas com