O herbanario parecia ligar grande valor a estás perguntas, porque a cada resposta obtida, abanava pausadamente a cabeça com certo ar meditativo.
Augusto relanceava tambem para a fronte, meio contrahida, do velho um olhar entre curioso e timido.
O herbanario proseguiu:
—Emfim... A desconfiança é um achaque de velhice e nem sempre os maïs felizes são os maïs acautelados. Deus que vêle, se os bons lhe merecem ainda a graça da sua protecção.
—O tío Vicente desconfia do primo Henrique? perguntou Angelo, rindo.
—Primo?!—repetiu o velho, admirado.
—Primo lhe chamamos nós, porque a tia Victoria teima que, sendo elle sobrinho da tia Dorothéa, é nosso primo tambem.
—Ah? Já ahi vamos? E Lena?...
—Lena, Christe, todos lhe chamam por lá assim.
O herbanario poz-se a murmurar algumas palavras inintelligiveis, terminando por estás:
—E, como no Egypto, é o vento sul que traz a praga dos gafanhotos. Mas Deus que vêle, Deus que vêle. E eu não me demoro maïs, que vou ainda d’aqui aos pardieiros de Cernuche.
—Á caça dos sapos, tío Vicente?—perguntou Angelo, gracejando.
—Não, que não é agora o tempo—respondeu, sisudo, o velho.
—Dos sapos! Galante caça, na verdade!—continuou Angelo no mesmo tom.
—Galante não será ella, pequeño,—respondeu o velho;—mas abençoada a chamarias se te torcesses no leito com as dores do carbunculo, que não ha remedio maïs efficaz para o curar, do que a pelle d’estes animaes sêcca ao ar livre.
—E a das toupeiras? O tío Vicente tambem caça toupeiras?