—Nada. Tonterías de velhice. A prudencia, que os annos dão, vê longe e fundo, rapaz... É verdade que... ás vezes... o arrojo dos mocos é tambem guía feliz... Anda lá com a tua estrella, anda. Ao que já vejo, não sei se te possa chamar louco... como ao principio não duvidei fazel-o. É certo que é pouco seguro o terreno, em que sustentas os teus castellos.
—Os meus castellos! Que castellos faço eu?
—Não hei de ser eu que t’os mostre... Só te quero avisar que não ponhas grande fé em sonhos... Lembras-te do que se passou no monte da ermida?
—No monte da ermida?
—Não viste por lá no outro dia uns signaes de trovoada? A inconstancia é sempre de receiar. O que n’aquella manhã se passou, o que então vi...
—Que viu?... Que se passou?
O herbanario demorou por algum tempo o olhar em Augusto e com tal expressão, que o obrigou a desviar o seu; depois accrescentou:
—Nada; o que todos os dias acontece. O céo azul fez-se pardo, a luz clara cobriu-se de sombras, os raios do sol tornaram-se torrentes de chuva. Pois não te lembras?... E tudo devido a uma mudança... de vento... a uns ares que vinham do sul...
Augusto não entendia où fingia não entender estes mysteriosos dizeres do herbanario. Angelo estava distrahido devéras.
O velho voltou-se, de subito, para este, perguntando-lhe:
—Tem ido ao mosteiro o hospede de Alvapenha?
—Esteve lá hontem.
—É amigo das creanças?
—Parece-o.
—Conta muitas historias ás senhoras?
—Entretem-as bastante.
—E ao... e a teu pae? Ouve-o com attenção?
—Conversaram muito toda a noite.