—Ó tia... a falar verdade!... se me dispensassem!...
—Vem d’ahi, preguiçoso! anda!
—É que... para um homem doente...
—Ai, não; se te ha de ás vezes fazer mal, então não—apressou-se a dizer a precavida senhora.
E foi deferido por unanimidade o requerimento de Henrique, a quem cêdo depois Torquato foi ensinar. o caminho para o quarto onde devia pernoitar.
O conselheiro, D. Dorothéa, Christina e Angelo fôram para a missa do gallo.
D. Victoria, Magdalena e Henrique ficaram no Mosteiro.
XV
Fechando-se no quarto, que lhe deram para pernoitar, Henrique de Souzellas sentiu poucas disposições de dormir. Uma profunda excitação impedia-lhe o repouso; em parte era devida ás occorrencias d’aquella noite, tão fóra dos seus hábitos de vida; em parte, digamol-o em verdade, á influencia dos vinhos, com que secundára os brindes do conselheiro, e com que elle proprio iniciára outros.
A imaginação, excitada como estava, cada vez, entre outras imagens, lhe representava maïs bella a de Magdalena. A especie de hostilidade permanente, com que a morgadinha o tratava, ainda maïs parecia seduzil-o.
Nos poucos dias que passára na aldeia, havia Henrique, com novos hábitos, adquirido uma maneira de vêr e de julgar as coisas e as pessoas, différente da que lhe era habitual na cidade, no circulo de amigos, com quem convivia; assim foi que abjurou tacitamente, e sem dar por isso, certo scepticismo