Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/371

Wikisource, a biblioteca livre
97

XXII


Dias depois das scenas descriptas no anterior capítulo, estava a morgadinha occupada a escrever n’uma das salas do Mosteiro, quando ouviu atraz de si correr o reposteiro da entrada.

Julgando que era algum criado, nem se voltou e proseguiu na escripta.

—­Retiro-me, se sou importuno—­disse a pessoa que entrára, e que ficára no limiar da porta.

Magdalena voltou-se então e reconheceu Henrique de Souzellas.

—­Ah! é o primo Henrique? Pode entrar.

—­Eu sei? Ha correspondencias tão delicadas, que demandam a applicação de todas as nossas faculdades, e a presença de um importuno...

—­Mas não se dá agora esse caso; nem quanto á delicadeza da correspondencia, nem quanto á importunidade do visitante.

—­Então utiliso-me da concessão.

—­Occupava-me a escrever áquelle pobre Cancella, para o tranquillisar em relação á filha. Pobre homem! Ainda se lhe não pôde obter fiança, apesar de meu pae tratar d’isso, a pedido meu. Ha quem trabalhe contra elle. E como ha de ter padecido na cadeia na incerteza em que está? Quem ha de dizer que n’aquelle corpo, robusto e forte, se aloja uma alma de tão delicados sentimentos? Inda lhe hei de mostrar a carta que elle escreve a pedir-me que trouxesse para o Mosteiro a filha, e a tirasse de casa da madrinha, que com o seu fanatismo a perdeu... É um modelo para seguir.

—­E como vae a pequena?

—­Mal. Estou aquí a mentir, fazendo conceber