Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/376

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Henrique ia a responder, quando entrou na sala um criado com as cartas do correio.

—­Trégoas á nossa conferencia, emquanto eu leio a carta de meu pae—­disse Magdalena, examinando a carta recebida.

—­Concedidas, e eu aproveito-as para correr a vista pelos periodicos que chegaram.

E emquanto Magdalena lia a carta, Henrique passava pelos olhos as folhas de Lisboa.

Não tinham decorrido muitos instantes, quando a morgadinha interrompeu a leitura, exclamando:

—­Ó meu Deus! mas de que se trata? Que quer dizer isto?

Ao ouvir estás palavras, Henrique desviou para ella os olhos.

Viu-a agitada e lendo com vivacidade e commoção a carta do conselheiro.

—­Ha alguma má nova?—­perguntou Henrique, ferido por aquella expressão.

Antes, porém, de responder-lhe, a morgadinha seguiu com ardor a leitura até o fim.

Henrique continuava a observal-a e cada vez maïs evidentes descobria n’ella os signaes de uma funda agitação. Ao findar a leitura, passou a mão pela fronte como para desviar uma ideia amarga.

—­Por amor de Deus, prima Magdalena, que diz essa carta, para assim a perturbar?—­perguntou Henrique, já assustado tambem.

—­Não sei bem; não posso ainda dizer a que se réfère meu pae; mas sinto-me interiormente sobresaltada, como se o adivinhasse.

—­Mas a final o que se diz ahi?

—­Leia, e veja se, melhor do que eu, pode comprehender esse enigma, por certo doloroso.

Henrique examinou a carta, que a morgadinha lhe passou para as mãos.

N’esta carta queixava-se o conselheiro á filha de ter sido victima de um abuso de confiança commettido por alguem, que elle ainda não sabia dizer