pitaneado pelo morgado das Perdizes, ia ceder, um pouco subjugado pela figura solemne e a palavra severa do venerando cura, saiu da igreja uma singular procissão.
Á frente vinha o estandarte da confraria erecta pelo missionario; este seguia-o, e atraz d’elle os seus confrades e sequazes, no numéro dos quaes se encontravam padres e mulheres.
A hoste do sr. Joãozinho sentiu-se reanimar com este refôrço.
Um grito unisono saiu dos labios de todos ao ver a procissão.
—Viva o missionario!
—Viva o santo!
—Abaixo os pedreiros-livres!
E os do bando do estandarte correspondiam a estás saudações, dizendo:
—Abaixo os maçonicos!
—Morram os jacobinos!
—Viva a santa religião!
Mais uma vez este brado augusto, que deveria proclamar o perdão das injurias, o amor reciproco, a caridade indistincta, era profanado por o fanatismo e por a hypocrisia, e manchado pelo sophisma de seculos, o mesmo sophisma que maculou os feitos de armas dos passados guerreiros da christandade.
A embriaguez da revolução apoderou-se de novo do morgado das Perdizes. Duas influencias inebriantes lhe disputavam agora o cerebro, que não fôra nunca dotado, de grande fortaleza contra as paixões.
Palpitava-lhe o coração, quando se imaginava caudilho de um movimento popular.
Sentia a necessidade de se fazer notavel por um feito heroico.
—Não se consentem aquí enterros, e principiemos já por deitar abaixo estás pedras—bradou elle, apontando para o tumulo da familia do conselheiro.