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Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/470

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agradavel noite! Não poder prolongal-a por toda a eternidade!

—­Vamos, vamos,—­respondeu Magdalena—­o dia d’ámanhã deve ser feliz ainda, porque...

N’isto, como se alguma coisa tivesse observado na rúa que lhe attrahisse a attenção, calou-se, mal podendo reter um lève grito.

—­Que foi?—­perguntou Henrique, que o percebeu.

—­Nada—­respondeu ella, correndo a vidraça e afastando-se da janella.

—­Viu a alma da morgada?—­perguntou jovialmente Henrique, vendo-a preoccupada.

—­Não—­respondeu Magdalena, meio a sorrir e meio séria.—­Pode porém haver apparições peores.

—­Que é, Lena? Que viste tu?—­perguntou Christina, assustada.

—­Socega, filha, nada que possa transtornar o nosso regresso. Vamos.

E, passados poucos minutos, sairam todos os que até alli animavam aquella habitação solitaria, e ella permanecia outra vez em trevas, em silencio e na sua quasi desolação.

 

XXIX


No dia seguinte, pela manhã, recebeu-se na Alvapenha noticia da chegada do conselheiro e de Angelo. A impressão profunda que a este ultimo causára a morte de Ermelinda, tinha resolvido o pae a trazel-o comsigo para a aldeia a distrahir e robustecer com ares livres do campo. D. Dorothéa apressou-se, segundo o costume, a visitar o conselheiro; Henrique acompanhou-a e de caminho pôl-a ao facto do estado do seu coração, e encarregou-a