Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/469

Wikisource, a biblioteca livre
195

habilitou-me a concluir que teria o gôsto de receber o primo em minha casa.

— E que disseste no Mosteiro? Sabem que vieste?

— Não. Disse que ia visitar Brizida, onde passaria a noite. Bem me viste sair. Viemos ambas para aqui ainda com dia para pôr a casa em arranjo.

— São mesmo coisas tuas — disse Christina, rindo.

— Mas eu não disse nada — insistiu Torquato.

— Porém, por que motivo se irritou tanto o herbanario? — perguntou Henrique. — Que imaginava elle a final?

-Ah!... É porque este sr. Torquato teve a habilidade, com as suas meias palavras, e reticencias indiscretamente discretas, de arranjar as coisas de maneira que o velho Vicente chegou a persuadir-se de que havia aqui um romance em que entrava eu... A discreção do Torquato é das que respeita os nomes, de maneira que as honras da aventura fôram-me todas attribuidas... N’este mesmo romance parece que entrava tambem o primo Henrique...

— Ah! percebo agora — disse Henrique, rindo. — O velho é ciumento por procuração.

Magdalena abanou a cabeça, sorrindo tambem.

Christina, que já estava habilitada para entender a allusão de Henrique, sorriu com elles.

O Torquato foi o unico que nada percebeu.

Eram perto de duas horas, quando a morgadinha lembrou a necessidade de voltarem a casa.

— Choverá? — perguntou Brizida.

— Julgo que não — respondeu Magdalena, e como para assegurar-se correu a vidraça da janella e examinou o firmamento.

Henrique acompanhou-a.

— A noite está serena — disse ella. — São horas de voltarmos.

— Mal sabe a tia D. Victoria por onde lhe anda parte da familia a estas horas — disse Henrique, — Mal sabe a tia D. Victoria por onde lhe anda parte da familia a estas horas — disse Henrique, debruçando-se á janella, e continuou: — Mas que