de Magdalena. A natureza d’esta paixão dizia elle conhecel-a. Não tinha outra aspiração além de existir, era como o culto pela Virgem do Christianismo, era que se adora por adorar, em que na mesma adoração se acha o premio do culto, em que o deixar-se adorar é o mais que pode pedir-se ao objecto d’elle.
De tudo isto estava sinceramente convencido Augusto.
Mas por que foi que, desde os primeiros momentos em que viu Henrique, sentiu quasi aversão para elle? por que foi que, amavel e bondoso para com todos, só para com um desconhecido se mostrou frio e irritante? por que foi emfim que, ao persuadir-se, por certos indicios, de que Magdalena e Henrique se amavam, caiu no desalento, em que tantas causas de infortunio o não tinham lançado ainda? Porque a verdade era que foi este o golpe que o venceu.
Por quê? porque amava Magdalena, porque este amor não tinha nada excepcional; era inconscientemente apprehensivo, ambicioso, devaneador e ciumento, como todos os amores verdadeiros; porque era aquelle o seu sonho mais querido, e desde que era obrigado a convencer-se de que não passára de um sonho, não se sentia de animo para fitar a realidade; porque era aquella a luz da sua alma, e ao vêl-a apagar, vacillou nas trevas e parou. Desde que não avistava um alvo, não havia para elle retrogradar nem progredir; era um movimento sem fim, que não valia mais do que a quietação.
Esta fôra a causa do desalento de Augusto, que só então conheceu que se illudira com o estado do seu coração, que o que em si se passava era o verdadeiro amor.
Desde que teve de renunciar a elle, não fez mais um esforço para justificar-se da calumnia que pesava sobre si. Sentia-se indifferente á condemnação do mundo. Já nem lhe importava justificar-se para