Saltar para o conteúdo

Página:A morgadinha dos canaviais.djvu/52

Wikisource, a biblioteca livre

― É o João Herodes.

― Esse foi a Lisboa.

― Então, quando vier, que appareça.

― O tio Zé P'reira ficou de receber as cartas. É compadre d’elle.

― Eu não quero saber de compadrices. O tio Zé P'reira que se occupe com o seu zabumba e deixe lá os outros.

A leitura mais ou menos acompanhada d’estes dialogos proseguiu, redobrando de momento para momento a anciedade dos que iam ficando. Um fundo suspiro, unisono, melancolico, expressivo de desalento, seguiu-se á leitura do ultimo nome e ás poucas palavras, com que o funccionario fechou a tarefa.

― E acabou-se.

Os que ainda estavam na loja sairam cabisbaixos, morosos e com tão má vontade, como se ainda tivessem esperança de commover a inexoravel sorte.

Henrique, ficando só com Bento Pertunhas, teve de lhe escutar ainda, por muito tempo, a narração dos seus passados triumphos artisticos, das suas amarguras presentes no magisterio, e das suas esperanças em melhoramentos futuros. Entre as ambições mais inquietas do mestre, a de obter o logar de recebedor de comarca, proximo a vagar por a morte imminente do respectivo empregado, figurava em primeira linha.

Depois de varias tentativas, Henrique conseguiu deixar o seu interlocutor, e continuou o passeio que este episodio interrompera, tão satisfeito e distrahido, que nem apprehensões lhe causava a ideia de trazer as botas humedecidas pelas hervas do caminho, ideia que, em outra occasião, bastaria para o fazer doente.

Ladeava elle um campo, cingido de altas silvas, a procurar saida para a deveza, da qual um fundo vallado o separava, quando lhe pareceu ouvir um