rumor de vozes, como de alguem, que conversasse perto d’alli.
Parou a certificar-se.
Não se enganára. Era do outro lado da sebe, e na deveza, para onde tentava passar, que se estava falando.
Espreitou por entre as folhas do silvado que o encobria, e viu uma scena, que lhe moveu a curiosidade.
Um grupo de creanças e de mulheres do povo escutavam em pleno ar e com religiosa attenção, a leitura que uma senhora joven e elegante lhes fazia das cartas, que ellas para esse fim lhe davam. A senhora estava montada, não como romantica amazona, em hacanêa fogosa, mas modesta e simplesmente n’um digno exemplar d’aquelles pacificos animaes, a que Sterne não duvidou dedicar algumas palavras de sympathia nas suas paginas mais humoristicas, e que Pelletan incluiu entre os collaboradores da humanidade na grande obra do progresso, ou, deixando a periphrase, em uma possante e bem apparelhada jumenta.
Á roda as ouvintes encostavam-se com familiaridade ás ancas e ao pescoço do immovel quadrupede.
A leitora segurava no collo a mais pequena e a mais nua das creanças do rancho.
Lia com voz agradavel e sonora; e, graças á serenidade da manhã e ao socego do logar, ouviam-se distinctas, á distancia que ficava Henrique, as palavras, que ella pronunciava lentamente, como para as deixar penetrar bem na intelligencia do auditorio.
Henrique reconheceu muita d’esta pobre gente, por a mesma que, momentos antes, vira na casa do correio.
Mas as suas attenções voltaram-se com especialidade para a leitora.
Era uma mulher muito nova ainda. Uma graciosa