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A Augusto era-lhe incitamento a ideia de que sua mãe precisava d’elle.

Quando ainda aos seus treze annos fôsse já bem conhecida a grandeza dos sacrificios que lhe exigiam, não hesitaria talvez, instigado por aquella aspiração; quanto mais que ainda mais lhe tinham animado os sonhos, as doces imagens, tão gratas ao coração do adolescente, e a que teria de renunciar.

Suspirava por o dia do seu primeiro exame, o qual, graças aos esforços empregados, não se fez esperar muito.

Quando se approximava a occasião, o pae de Magdalena mandou vir Augusto para Lisboa e hospedou-o em sua casa até que chegou o dia.

Não confiando demasiadamente no ensino publico da aldeia, o conselheiro quiz que o seu pequeno hospede recebesse algumas lições de um professor da cidade, e d’este obteve as melhores informações da intelligencia do rapaz, que só por milagre d’ella conseguira sair muito pouco eivado dos vicios do ensino de campo.

Augusto demorou-se algumas semanas em casa do conselheiro. A final fez o exame, no qual foi felicissimo, obtendo n’elle as mais distinctas qualificações.

Imagine-se o effeito que a noticia produziu na aldeia. Exaggerando-se, dizia-se por lá que em toda Lisboa corria a fama do rapaz, e houve até quem não hesitasse em affirmar que a creança confundira os mestres, que fôra uma maravilha.

O mestre-escola reclamou para si a gloria do acontecimento, fundando-se em que, através do discipulo, resplandecia a sciencia do mestre.

Os invejosos disputavam-lhe porém tão inquestionavel gloria e riam-se d’elle.

A pobre mãe, essa, levou todo o dia a chorar de prazer e a render graças á Virgem, a quem tanto encommendára o filho.