Nisto, bateram lá fora três fortes pancadas com a aldrava da porta.
— Não! não me chames!. . . continuava a sonhar o pároco. Não te aproximes de mim, flor de perdição! que eu morreria de pena se te fugisse, mas também morreria de remorsos, se tu ficasses nos meus braços. (Bateram de novo e mais forte). Não! não irei abrir-te a porta! mas não desesperes, minha pobre amada!... Ainda nos havemos de reunir no Paraíso!. . . Seremos dois espíritos inseparáveis, que percorrerão abraçados os páramos de Deus! Então, como duas asas de anjo, viveremos unidos para sempre e sempre acordes.
Bateram de novo, ferozmente, e Salomé gritou lá de dentro:
— Quem é?
— Queremos falar ao sr. cura, respondeu uma voz de fora.
— Agora não é possível! Voltem pela manhã!
— É caso urgente!
— Mas ele está dormindo!. . .
— Precisamos falar-lhe no mesmo instante!
E no entanto... sonhava o pároco; o teu amor deve ser mais doce que o mel das flores. . . mais suave que o perfume da mirra, e melhor e mais saboroso do que os vinhos de Canaã!. . .
Salomé, deveras contrariada, entrou na sala de jantar, trazendo na mão uma candeia acesa, e foi até à porta do quarto de Ângelo.