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Página:A mortalha de Alzira (1924).djvu/195

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derramando no aposento uma doce claridade de luar multicolor, e a Santa sorria para ele, banhada de ternura, toda de branco e coroada de flores de laranjeira, como uma noiva.

Ângelo volta-se todo para ela e sonha que lhe estende os braços, pedindo-lhe que desça do seu altar e venha colocar-se ao lado dele.

Mas a Virgem começa a tomar as feições de Alzira. A sua branca roupa de noiva transforma-se em longa túnica mortuária, soltam-se-lhe os cabelos e caem-lhe pelas espáduas, como os da morta do castelo de Aurbiny.

Os olhos tingem-se-lhe de uma sinistra sombra cadavérica, e os seus lábios fazem-se roxos e tiritantes de frio.

Ângelo tem medo e volta-se todo contra a parede, cosendo-se aos travesseiros e tremendo aflito.

Mas o espectro de Alzira desce do nicho, e dirige-se para a cama dele.

Ângelo, frio de terror, sente-lhe os passos no chão, e ouve o estranho pisar daqueles pés duros e ossificados pela morte.

Retrai-se, encolhe-se, e arqueja com o rosto escondido.

Mas Alzira vai até à cama, verga-se sobre ele e toca-lhe no ombro com a mão gelada.

O mísero quer gritar e não pode.

Ela senta-se ao lado dele. e beija-lhe os cabelos.