Saltar para o conteúdo

Página:A mortalha de Alzira (1924).djvu/196

Wikisource, a biblioteca livre

Ângelo estremece, mas um voluptuoso fluido percorre-lhe o corpo inteiro, acorda-lhe o coração do sobressalto em que estava, e o seu medo vai a pouco e pouco desaparecendo.

— Ângelo!... disse-lhe ao ouvido o espectro, com a voz mais doce e amorosa que um suspiro de saudade; Ângelo, amado de minha alma! . . . Ouve! . . . Volta-te para a tua Alzira!... Escuta-me!...

— Alzira? exclamou ele, voltando-se.

— Sim, meu amado, sou eu...

— Que desejas de mim?... De onde vens?...

— Venho de muito longe... venho da outra margem da vida, que tu ainda não conheces. . . venho do mundo dos mortos, mundo de sombras e de sonhos!. . . venho de onde nada se conserva desta vida senão a memória de ser aqui que amamos!...

— E que desejas de mim?. . .

— A tua companhia. Venho buscar-te.

— Buscar-me?...

— Sim. Com a força do meu amor, consegui vencer o abismo que nos separava e chegar até aqui. Minha alma foi arrojar-se aos pés de Deus e pedir-lhe, pelo muito que sofri em vida por amar-te em segredo, que lhe concedesse a graça de aparecer-te todas as noites durante o sonho. Deus, apiedado, porque eu te não possuí na vida dos sentidos, consentiu que me pertencesses nesta existência espiritual, melhor