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Página:A mortalha de Alzira (1924).djvu/197

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que a outra. Aqui me tens, e todas as noites, mal adormeças, eu virei buscar-te.

Ângelo escutava-a atentamente.

— E para onde tencionas levar-me?. . . perguntou depois do primeiro abalo.

— Para toda a parte, respondeu Alzira, onde possamos esquecer as dores que já sofremos, e fruir as delícias que ainda não gozamos! Para toda a parte, onde cada lágrima derramada pelos nossos olhos, seja resgatada por um beijo de nossos lábios. . .

E deu-lhe um beijo na fronte.

Ângelo soltou um gemido e retraiu-se.

— Que tens?. . . indagou ela com meiguice.

— É que teus beijos são frios como as gotas da noite! . . . Parecem beijos de uma estátua gelada!. . .

— Sim! Enregelei na viagem. . . Ah! São tão frias as paragens que percorri!. . . Mas tu me aquecerás com os teus ardentes lábios de moço! tu me darás um pouco de calor do teu sangue!

Ângelo retraiu-se ainda.

— Não tenhas medo, prosseguiu ela; este frio é todo exterior, meu coração arde-me dentro do peito, como um vulcão sob a neve. Não fujas de mim! Vamos! Ergue-te! Principiemos a nossa existência feliz! Vem, que só poderemos estar juntos até ao raiar do dia! Não há tempo a perder!. . .

E a sua túnica mortuária transformou-se por