braços, foge-nos dos lábios; mas da alma, ah! da alma, nunca mais, nunca mais desaparecerá a mulher amada!
E Ângelo voltou os olhos para o céu, interrogando-o. E exclamou:
— Meu Deus, teria eu pecado com o sonho desta noite?. . . O sonho, bem sei, é produto do pensamento, e por pensamento se peca tanto como por palavras e por ações; mas o sonho não obedece à vontade de quem sonha, porque, se obedecesse eu só construiria meus sonhos com as cousas que vos pertencem... Deveis saber que sou bem intencionado e que sou sincero!. . . Ah! Maldita sejas tu, minha louca e desvairada fantasia, que me fazes revoltar contra mim mesmo!. . .
Se o velho Ozéas estivesse ali, ao lado dele. Ângelo teria ao menos a quem consultar o que devia fazer contra aquele inimigo terrível e traiçoeiro.
Mas só, como se achava, o mísero vacilara perplexo. Devia penitenciar-se pelos desvarios da sua imaginação, ou devia deixar que o sonho continuasse a correr à solta, cometendo todos os desatinas que lhe aprouvesse?
Entretanto o sino lá fora o chamava para junto do altar. O sino o chamava para que fosse ele erguer a hóstia consagrada acima da sua atordoada cabeça, oferecê-la a Deus em sacrifício!