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Página:A mortalha de Alzira (1924).djvu/214

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dia. Mulheres amamentavam os filhos, com os olhos fitos nas imagens dos santos. Velhos, secos e nodosos como esqueletos de árvore ressequidas pelo inverno, vergavam a cabeça sobre as trêmulas mãos apoiadas no bordão.

Os pardais e os melros chilreavam por entre as frestas das altas paredes da capela, caiada de cima a baixo.

As velas do altar derretiam-se tristemente, consumidas pela surda chama que a sanguínea luz da manhã tornava desluzida e lívida.

Ângelo atravessou a igreja, de olhos baixos, e foi colocar-se de joelhos nos degraus do altar.

A sua oração preparatória nesse dia durou mais tempo que nos outros. Notaram que as lágrimas lhe corriam pelas faces, quando ele se ergueu para celebrar o sacrifício.

E seus lábios tremeram na ocasião de receber a hóstia consagrada. Naquela alma, imaculada e sincera, um doloroso escrúpulo tolhia a confiança na sua própria pureza.

Mas celebrou.

E depois voltou-se, de braços abertos para os crentes, abençoando-os em nome do Pai de todos os homens.

Os sinos repicaram de novo.

Ângelo, mais sucumbido ainda que antes do sacrifício, retirou-se da igreja cabisbaixo e concentrado.

À saída, um cavalheiro saiu-lhe ao encontro