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Página:A mortalha de Alzira (1924).djvu/217

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peço a Vossa Reverendíssima que se encarregue de distri-buir pelos infelizes da sua pobre paróquia, ultima-mente tão vitimada pela peste, a quantia que acom-panha esta carta e que se acha dentro de um cofre, por minha mão fechado e sobrescritado a Vossa Reve-rendíssima. Outrossim, peço que nas suas orações de santo interceda algumas vezes junto a Deus por minha triste alma pecadora arrependida e contrita."

Assinava "Alzira".

Com a leitura daquelas palavras, que pareciam vir do outro mundo, que pareciam vir do fundo nebuloso dos seus sonhos, Ângelo estremeceu todo e fez-se mais lívido que a própria Alzira, no momento em que ela pela primeira vez lhe surgiu da sepultura. Aquela carta, que um frio sopro de morte lhe arrojava às mãos, vinha obrigá-lo a pensar nessa mulher já extinta, que tanto aliás o procurava ainda.

Oh! Aceitando aquela missão teria que pensar nela eternamente. . . Teria que envolver seu nome impuro nos sagrados dizeres das suas fervorosas orações!... Teria que falar a Deus a respeito dessa misteriosa cúmplice, de quem ele se não queria recordar nunca, e teria de a fazer conhecida e abençoada por todos os pobres da aldeia, enquanto durasse aquele dinheiro, fruto da prostituição!

E repeliu o cofre, disposto a não aceitar o encargo.