Saltar para o conteúdo

Página:A mortalha de Alzira (1924).djvu/259

Wikisource, a biblioteca livre

Ângelo viu-se afinal senhor do campo e, ofegando de cansaço, limpou o punhal tinto de sangue nas roupas de uma das suas vítimas.

— Fujamos! disse Alzira, a enxugar-lhe com o lenço de rendas a fronte ressumbrante de suor. Fujamos antes que amanheça!

— Não! opôs Ângelo. Vamos beber ainda, e esperamos a aurora abraçados os dois sobre estes coxins feitos para a volúpia!. . .

Mas, no momento em que levava aos lábios a ânfora de vinho, arremessou-a para o lado, soltando um terrível grito de pavor.

Defronte dele, com os braços cruzados, os olhos faiscantes e o rosto fulo e sinistro como uma caveira, erguia-se o espectro do macilento cura de Monteli.

Ângelo recuou fulminado.

E o pároco, sem descruzar os braços, caminhou para ele atravessando-o com o seu claro olhar de sacerdote intransigente.

— Crápula! exclamou, chegando-lhe a boca ao rosto. Assassino! Bêbedo! Ladrão!

O amante de Alzira pôs-se a tremer.

O outro prosseguiu:

— Em que imundo esgoto perdeste tu a tua vergonha e a tua consciência, miserável?. . . para andares sem pudor a vagabundear ao lado de uma infecta prostituta? . . .

— E que tens tu com isto, hipócrita?. . . interrogou o Ângelo boêmio, recuperando o sangue