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Página:A mortalha de Alzira (1924).djvu/280

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maravilhosas?. . . Teria eu provado de todos os venenos do prazer e bebido de todos os vinhos do amor?. . .

Ozéas apoderou-se do braço de Ângelo.

— E ela continua a voltar?. . . exclamou, sobressaltado.

— Sim, sim, volta sempre! Ainda não faltou uma só noite até hoje! Mal adormeço, ela vem logo e carrega comigo! É ela a pessoa com quem eu mais convivo neste mundo.

— Neste, não! no mundo da tua loucura!

— E por que acreditar que este é o verdadeiro e o outro não?!... Ambos me ocupam longas horas o espírito, ambos palpitam de sentimento e de verdade, ambos tem as suas consolações e os seus desgostos!

— Mas, meu filho, não te lembras que cresceste a meu lado, que viveste sempre comigo?. . .

— Também no outro mundo tenho reminiscências de uma vida inteira. Lembro-me do colégio, das férias passadas com parentes, dos afagos de meus pais... sim! porque lá não sou um miserável enjeitado.. . tenho família e tenho amigos... E' uma vida completa e perfeita! Esta outra existência obscura, de pároco de aldeia, apresenta-se-me então ao espírito como um sonho extravagante e ridículo!. . .

— É preciso que Alzira nunca mais te apareça! bradou o velho.