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Página:A mortalha de Alzira (1924).djvu/281

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— Ah! disse Ângelo. Creio que só com a morte deixarei de vê-la!. . . E, ainda assim, quem sabe?... Quem sabe se Alzira não virá ter comigo, quando esse outro sono me adormecer para sempre?... E quem poderá afirmar que eu vivo?. . . quem me dirá que não sou, como ela, um pobre espírito errante, um espectro, uma sombra, condenado a nunca repousar?. . .

— Cala-te, louco! Não a verás hoje!

— Ela virá logo que eu adormeça!. . .

— Hoje não dormirás!

— Ela me espera!. ..

— Desgraçado! Já não és senhor de tua vontade?.. . Acaso negociaste tua alma?...

— Não, meu pai, minha vontade é a sua... minha alma pertence a quem ma confiou, pertence a Deus!

— Pois então, obedece-me! Põe o teu capote e o teu chapéu, toma um alvião e uma enxada, e acompanha-me!

— Aonde vamos?

— Depois o saberás. Ajoelha-te e pede ao Criador que te proteja!

O discípulo obedeceu.

E o velho acrescentou, erguendo os braços e os olhos para o céu:

— Ó meu Deus! Ó senhor misericordioso! não nos desampareis nesta terrível excursão que vamos empreender! . . .