Não deram ambos uma só palavra durante a viagem, até chegar ao mosteiro.
Entraram na cela como duas sombras.
O presbítero foi direito ao altar da Virgem, caiu de joelhos defronte dela e quedou-se a fitá-la, enquanto as lágrimas lhe escorriam pelo rosto, agora silenciosamente.
Depois ergueu-se e começou a considerar, abstrato, tudo que o cercava ali, como se visse aqueles objetos pela primeira vez.
E tudo aquilo nunca lhe pareceu tão miserável, tão ermo e turvo, como naquele instante. Aquela dura prisão, onde surdamente se escoara a triste mocidade, nunca lhe pareceu tão árida e tão mesquinha. Aquelas nuas paredes, empalidecidas pelo tempo, nunca lhe pareceram tão apertadas, e aquele sombrio teto, tão baixo e tão sufocante.
Olhou longamente para as suas velhas estantes carregadas de pesados livros religiosos, olhou para a sua tosca e tranqüila mesa de estudo, para a sua pobre enxerga de condenado, e ficou a considerar o cilício pendido da parede junto ao altar da Virgem.
Ozéas observava-o, imóvel até ali, de braços cruzados, com uma inconsolável e funda expressão de mágoa no olhar.
Afinal, foi ter com ele, e tocou-lhe no ombro.
Ângelo despertou sobressaltado.