Saltar para o conteúdo

Página:A mortalha de Alzira (1924).djvu/93

Wikisource, a biblioteca livre

Era a antecâmara da formosa Alzira rigorosamente posta ao caprichoso gosto da época.

Guarneciam-na móveis de madeira, esculpida e pintada de branco, com arabescos de ouro, que variava entre o fusco e o luzente, formando torturados desenhos de ornato. Pombas aos pares e anjinhos rechonchudos serviam de adorno às guarnições das portas. Sobre peanhas e cantoneiras havia jarras de Sèvres, com pinturas assinadas, em que se viam pastores enfeitados de fitas azuis e cor-de-rosa, na cinta, nos joelhos, no pescoço e nos tornozelos, tocando avena e flauta, ao lado de roliças raparigas de saia curta listrada com sobre-saia de tufos de seda clara, chapéu de palha, coberto de flores, uma corbelha enfiada no braço, sapatinhos quase invisíveis, e um dos peitos à mostra, branco e levemente rosado, como trêmula gota de leite sobre uma pétala de rosa.

As cortinas de estofo alvadio, adamascado de prata, eram arrepanhadas ao meio por grandes florões de penas multicores.