Itacajá (TO) - O território de tal município do estado do Tocantins foi tradicionalmente habitado por índios Craós, que foram missionados pelo pastor Francisco Colares, o que originou um adensamento humano que se tornou distrito em 1938 e município em 1953. Aquele topônimo provém do nome de uma cachoeira chamada Cajá, no rio Manoel Alves, que banha aquela localidade, sendo Cajá um nome espontâneo, simples e motivado pela existência de uma planta anacardiácea, também chamada cajazeira. Por sua vez, o nome Itacajá, criado artificialmente com étimos do tupi antigo, tem sentido absurdo (“cajá de pedra”) e foi, além disso, atribuído a um lugar onde nunca se falou tupi antigo nem nenhuma língua geral dele oriunda.
A nomeação artificial com origem no tupi antigo e nas línguas gerais dele originadas convive, no Brasil, com a toponímia espontânea e tal fato passa despercebido por muitos. Isso hipertrofiou a influência tupi, que já não foi pequena, na formação do sistema toponímico brasileiro. Não afetou, por razões anteriormente mostradas, a nomeação de elementos físico-naturais, como rios, córregos, morros, serras etc., a qual é infensa a mudanças fáceis. Tais topônimos têm grande importância como crônica do espaço geográfico, revelando aspectos pretéritos dele.
Se foram criados nomes adequados e corretos, também surgiram nomes sem sentido e erroneamente formados, que nada revelam senão o despreparo de seus criadores nas línguas indígenas históricas do Brasil.
Há, contudo, um aspecto positivo nessa nomeação artificial: ela nobilitou ou tentou nobilitar línguas indígenas num século de grande modernização tecnológica como foi o século XX, no qual o índio representou, muitas vezes, o passado e o atraso social e econômico. Inda que mitificado, ele foi, de certa forma, valorizado num Brasil que tinha olhos mais voltados para a Europa e os Estados Unidos. Foi uma maneira de o Brasil homenagear os derrotados da sua história. Tal fenômeno significava também um preito saudosista a um Brasil tradicional que começava a se transformar e a se modernizar. Representava as vozes de um passado que não queria morrer. Bem expressou Teodoro Sampaio tal fenômeno sociocultural do século XX, no prefácio da terceira edição de O Tupi na Geografia Nacional:
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