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ISSN: 2317-2347 – v. 9, n. 2 (2020)
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phenomenon were the strengthening of political nationalisms in the last century, with reflections in Brazil, the advent of Modernism, with profound effects on Western culture in general and on Brazilian culture in particular. This paper analyzes such artificial place names, making an attempt to classify them.

KEYWORDS: Artificial Place Names; Old Tupi; General Languages.

1 Introdução

A maior parte dos nomes de lugares que compõem o sistema toponímico brasileiro provém da língua portuguesa. Com efeito, o português, como língua de um império ultramarino, haveria de suplantar em emprego, em todo o território do Brasil, as línguas indígenas e as línguas gerais aqui faladas. A única região do Brasil onde ainda a língua portuguesa não era majoritariamente empregada até a segunda metade do século XIX era a Amazônia. Contudo, com a grande migração de nordestinos para aquela porção do país, durante o Ciclo da Borracha, o nheengatu perdeu a primazia de emprego para o português. O ano de 1877 foi, com efeito, aquele em que isso finalmente ocorreu. A famosa Seca dos Dois Setes, no sertão nordestino, foi o acontecimento que fez mudar o perfil linguístico da Amazônia, dada a magnitude do êxodo de 500.000 sertanejos, monolíngues em português, que emigraram para lá.

Contudo, as línguas de povos aborígines também haveriam de ter importante participação no sistema toponímico brasileiro. Entre as línguas indígenas e as línguas gerais de matrizes indígenas, quatro foram fundamentais para a nomeação dos lugares no Brasil: o tupi antigo da costa, a língua geral amazônica, a língua geral paulista e o nheengatu. Com efeito, o tupi antigo foi a língua matricial de línguas supraétnicas que se desenvolveram historicamente a partir do século XVII, quando começou a interiorização da colonização brasileira. Tal toponímia é um dos testemunhos mais visíveis da ancestralidade indígena da sociedade brasileira.

Ao tratarmos de topônimos de origem indígena, estamos aqui considerando somente o nome do ponto de vista de sua forma, enquanto um lexema. Isso para evitarmos ambiguidades, fazendo-se supor um nomeador indígena que, muitas vezes, não existiu. Além disso, é preciso considerar que os nomes de origem indígena de que aqui tratamos seguem os processos fonológicos da língua portuguesa. Assim, fonemas não existentes em português realizam-se de diferentes formas quando surgem topônimos a nomear o território nacional. É o que ocorre, por exemplo, com o fonema /ɨ/ do tupi antigo, que se realiza em português como /i/ ou /u/. O mesmo

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