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Era a dona, a servente e ao mesmo tempo cozinheira dessa tasca imunda.

A cada pedido, a cabeça, coberta com uma espécie de turbante feito de um lenço de tabaco, retirava-se e, daí a pouco, aparecia um braço descarnado, que estendia ao freguês algum prato de louça azul cheio de comida, ou alguma garrafa de infusão de campeche com o nome de vinho.

Foi nesta sala que entrou Carlos.

Mas não entrou só; porque, no momento em que ia transpor a soleira, um homem que havia mais de meia hora passeava na calçada defronte da tasca, adiantou-se e deitou a mão sobre o ombro do moço.

Carlos voltou-se admirado dessa liberdade; e ainda mais admirado ficou, reconhecendo na pessoa que o tratava com tanta familiaridade o nosso antigo conhecido, o sr. Almeida.

O velho negociante não tinha mudado; conservava ainda a força e o vigor que apesar da idade animava o seu corpo seco e magro; no gesto a mesma agilidade; no olhar o mesmo brilho; na cabeça encanecida o mesmo porte firme e direito.

— Está espantado de ver-me aqui? disse o sr. Almeida, sorrindo.

— Confesso que não esperava, respondeu o moço, confuso e perturbado.

— O mal pode ocultar-se; o bem se revela sempre; acrescentou o velho em tom sentencioso.

— Que quer dizer? .

— Entremos.

— Para quê?

— O senhor não ia entrar?