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a Deus, ora a esse mesmo Deus! Demência extravagante do homem que pede perdão para o crime que vai cometer!

Quando o moço, terminada a sua prece, erguia as duas pistolas e ia aplicar os lábios à boca da arma assassina, o vulto que o tinha acompanhado, e que se achava nesse momento de pé, atrás dele, com um movimento rápido paralisou-lhe os braços.

Jorge ergueu-se precipitadamente, e achou-se em face do homem que se opusera à sua vontade de uma maneira tão brusca.

Era o sr. Almeida.

O velho, com a sua perspicácia e com os exemplos de tantos fatos semelhantes em uma época em que dominava a vertigem do suicídio, adivinhara as intenções do moço.

Aquela pronta resignação, aquela espécie de contradição entre os nobres sentimentos de Jorge e a calma que ele afetava, deram-lhe uma quase certeza do que ele planejava.

Não quis interroga-lo, convencido de que lhe negaria. Resolveu espiá-lo durante aquela noite, até que pudesse avisar a Carolina do que se passava, a fim de que ela defendesse pelo amor uma vida ameaçada por loucos prejuízos.

Sua expectativa realizou-se; recostado no muro da chácara que ficava fronteira às janelas do quarto da noiva, acompanhou por entre as cortinas toda a cena noturna que descrevi; conheceu a agitação do moço, viu-o deitar algumas gotas de ópio no cálice de licor que deu à sua mulher; não perdeu nem um incidente, por menor que fosse.