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em que o espírito evoca uma e mil vezes a lembrança da desgraça, como uma tenta que mede a profundeza da chaga, em que se acha um prazer acerbo no magoar das feridas que se abrem de novo.

A pouco e pouco o que havia de amargo nessas recordações se foi adoçando: as lágrimas correram mais suaves; o seio, que o soluço arquejava, arfou brandamente a suspirar. E, como no céu pardo de uma noite escura surge uma estrela que doura o azul, a saudade nasceu n'alma de Carolina e derramou a sua doce luz sobre aquela tristeza.

Tinha decorrido um ano.

Começou a viver dentro do seu coração, com as reminiscências do seu amor, como uma sombra que se sentava a seu lado, que lhe murmurava ao ouvido palavras sempre repetidas e sempre novas. Sonhava no passado; diferente nisso das outras moças, que sonham no futuro.

Mas um coração de 15 anos é um tirano a que não há resistir; e Carolina não contara com ele.

Quando uma planta delicada nasce entre a sarça, muitas vezes o fogo queima-lhe a rama e o hastil; ela desaparece, mas não morre, que a raiz vive na terra; e às primeiras águas brota e pulula com toda a força de vegetação que incubara no tempo de sua mutilação.

O coração de Carolina fez como a planta. Apenas aberto, a desgraça o cerrara; mas veio a calma e ele tornou a abrir-se. A princípio bastou-lhe a saudade para enchê-lo; depois desejou mais, desejou tudo. Tinha sede de amor; e não se ama uma sombra.

O mundo ao longe corria às vezes o pano a uma das suas brilhantes cenas e mostrava à menina refugiada no seu retiro