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Sentiu ele ou não a doce pressão da mão da moça? O que sei é que voltou sem proferir uma palavra.

Abrindo a carta, Carolina viu pela primeira vez algumas frases escritas, que seus olhos devoraram com avidez.

Dizia:

Amanhã à meia-noite no jardim. É a primeira ou a última prece de um imenso amor.

Mais nada; nem data, nem assinatura.

O que pensou Carolina durante as vinte e quatro horas que sucederam à leitura dessa carta, não o posso exprimir, minha prima; adivinhe. A luta renasceu no seu espírito entre o respeito profundo pela memória de seu marido e o amor que a dominava.

Essa luta violenta durava ainda no momento em que a encontramos; depois do combate renhido, o coração tinha transigido com a razão, o amor cedera ao dever. Carolina resolvera que a entrevista pedida seria a primeira, mas também a última. Quebraria o fio dourado dessa afeição, para não entrelaçá-lo à teia negra do seu passado.

Cumpriria o seu voto?

Ela mesma não o sabia; tinha medo que lhe faltassem as forças; e para ganhar coragem relia nesse momento a carta em que seu marido, na mesma noite do casamento, se despedira dela para sempre.

Não transcrevo aqui essa longa carta para não entristecê-la, D..., porque nunca li coisa que me cortasse tanto o coração. Jorge explicava à sua mulher a fatalidade que o obrigava, ele, votado à morte, a consumar esse casamento, que a devia fazer desgraçada, mas que ao menos a deixava pura e sem mácula.

Pela primeira vez, depois de cinco anos, C