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arolina trajava de branco; mas as fitas dos laços, as pulseiras, o colar, eram pretos ainda. Até no seu vestuário se revelava a luta que se passava em sua alma: o branco era a aspiração, o sonho do futuro; o preto era a saudade do passado.

Quando acabou de ler aquela carta, que sempre lhe arrancava lágrimas, sentiu-se com forças de resistir aos impulsos do coração; sentiu-se quase santificada pela evocação daquele martírio; e, ainda inquieta, esperou.

Pouco depois a pêndula vibrou uma pancada.

Carolina assustou-se e levou os olhos ao mostrador. A agulha marcava onze e meia horas.

A moça fez um esforço, ergueu-se rapidamente, entrou na sala e desceu ao jardim, ligeira e sutil como uma sombra. A alguma distância havia um berço feito de cedros, onde a treva era mais densa. Ai sentou-se.

À meia-noite em ponto o vulto apareceu e, guiado pelo vestido branco de Carolina, aproximou-se dela e sentou-se no mesmo banco de relva. Seguiu-se um longo momento de silêncio; o desconhecido não falava; o pudor emudecia a menina cândida e inocente.

Mas não era possível que esse silêncio e essa imobilidade continuassem; o desconhecido tomou as mãos de Carolina e apertou-as; as suas estavam tão frias que a moça sentiu gelar-se-lhe o sangue ao seu contato.

— A senhora me ama?

A voz do moço pronunciando essas palavras se tornara tão surda que perdera o metal para tornar-se apenas um sopro.

A menina não respondeu.

— É o meu destino que eu lhe pergunto! murmurou ele.