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Mas o traço, sobre todos notável do painel, era que os porcos tinham tonsura e cara de gente, vendo-se no maioral da frente a do prelado, e em seguida toda a fradaria, que o rodeava, desde o vigário-geral até o Cláudio minorense.

Atinando com a alegoria, a multidão disparou em um frouxo de riso, cujo burburinho cobriu o murmúrio das ondas a rolar na praia. Rompeu a revolução da gargalhada, a mais assoladora, e às vezes a mais cruel de todas as revoluções.

O respeito de que o seu caráter sacerdotal cingia o prelado, a força moral, essa formidável barreira que resiste às iras populares, nos seus mais terríveis assomos, o ridículo a acabava de aluir com um sopro.

Era obra do Ivo, bem se percebe, a tal alegoria ou como hoje diríamos, a caricatura, e não ficava somenos nem pelo chiste, nem pelo desenho, às melhores que figuram ai pelas ruas da corte em dias de carnaval.

Desde meio-dia trabalhara o Garatuja sem descanso, ajudado pela malta de estudantes que pulava de contente com a estrepolia, e aplaudia a lembrança do rapaz, sem importar-se com o desacato à religião, que estavam preparando naquele retábulo.

Enquanto de pintava,