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Estremunhado de sono, saltou o Freire da cama aos clamores que o apelidavam, e às tontas chegou à janela para ver o que lhe queriam; mas não antes de lhe assegurarem de fora que eram de paz.

Num instante a turbamulta o envolveu e arrebatou: de modo que o pacífico tabelião achou-se sem acordo próprio e quase sem conhecimento de si, no meio da rua, levado em charola, com a bandeira de São Sebastião arvorada na sinistra, e uma catana empunhada na destra.

Como isto se fizera, não o sabia ele. Viu-se no meio de um torvelinho de gente, e cercado, de fogaréus, que lançavam pelas ruas onde passavam uns lampejos sinistros e faziam-lhe calafrios, lembrando-lhe os autos-de-fé.

Eis como inventou o Ivo o "homem da situação". O que ele fez com o seu pincel, ainda hoje há quem o faça com uma gazeta, e com o mesmo desembaraço e petulância. Do que não se precisa mais é de povo, essa antigualha sem serventia. Paga-se a música dos alemães; abre-se uma finta com o nome de subscrição para retrato ou jantar; e aí está uma notabilidade, um chefe de partido, um medalhão.