de ouro, representando uma borla doutoral, lhe roçava o queixo adunco, quando a empunhava direita.
Era esse o licenciado João Alves de Figueiredo que aproveitara os dias feriados para refocilar em sua quinta de São Lourenço, à outra banda. Tornando à cidade, e surpreso do alvoroto em que a vinha encontrar, mal pisou em terra, barafustou à cata de novas.
Foi dar em uma pinha de gente, que imprensava-se para ouvir a narrativa do caso, feita por uma voz fanhosa e estrídula.
Pertencia essa fala de arrepiar os nervos, a um sujeito pequeno, rolho, já velhusco, vestido pelo mesmo teor e forma do licenciado, como oficial que era do mesmo ofício. O letrado acompanhava os esguichos nasais da palavra com um acionado consoante; seu gesto oratório mais valente era uma lançada que dava ex-abrupto na cara do auditório, com os dois dedos indicador e máximo, espetados à guisa de sovelão.
Havia seu perigo em escutar de perto um tão valente casuísta; nos momentos de calor seria capaz de vazar um olho, ou esbrugar um dente ao incauto para mostrar-lhe ao vivo a força da sua dialética.