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Página:Alfarrabios.djvu/284

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mancebo de muitos brios, teve o comando de um navio de corso, armado por alguns mercadores de São Sebastião; do que mal o soube, Aires, sem mais detença foi-se a bordo da escuna, que desfraldou as velas fazendo-se ao mar.

Não tardou que se não avistassem os três navios franceses, pairando ao largo. Galharda e ligeira, com as velas apojadas pela brisa e sua bateria pronta, correu a Maria da Glória a bordo sobre o inimigo.

Desde que fora batizado o navio, nenhuma empresa arriscada se tentava, nenhum lance de perigo se afrontava, sem que a maruja com o comandante à frente, invocasse a proteção de Nossa Senhora da Glória.

Para isso desciam todos à câmara da proa, já preparada como uma capela. A imagem que olhava o horizonte como a rainha dos mares, girando na peanha voltava-se para dentro, a fim de receber a oração.

Naquele dia foi Aires presa de estranha alucinação, quando rezava de joelhos, ante o nicho da Senhora. Na sagrada imagem da Virgem Santíssima, não via ele senão o formoso vulto de Maria da Glória, em cuja contemplação se enlevava sua alma.