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Assim não chegando a pedida vênia, impetrada para Lisboa, e avultando à Rosalinda umas esperanças, que já lhe não cabiam no justilho, enquanto lhe minguavam as outras, que dantes lhe enchiam de abundâncias o coração, tomou a mãe da moça as devidas cautelas para tapar a boca aos praguentos.

A moça adoeceu de ruim achaque; e ao cabo de umas tantas semanas, lá em certa noite apareceu na soleira da porta a resmelengar, uma trouxa que não se soube donde vinha. Disse a gente de casa que a trouxera um rebuçado embaixo do ferragoulo, e mal ali pousou, logo deitou a correr.

Quem isso afirmava era a velha, que estava passando o seu rosário bem descansada, quando ouvira um grunhido na porta; e abrindo a rótula depois dos indispensáveis exorcismos e benzimentos, logo pôs em alvoroço a vizinhança, gritando:

— Abrenuntio! Abrenuntio!... Cruzes! Te esconjuro!

— O que é, comadre? perguntou-lhe a vizinha do lado.

— O porco sujo que me está fossando na porta, senhora!

— T'arrenego!